O gargalo dos portos

Florianópolis, 26.3.13 – Sete meses depois do lançamento do marco regulatório dos portos e enquanto o governo federal segue na tentativa de fazer andar a medida provisória destinada a modernizar essa que é uma das áreas mais prejudicadas pela deterioração da infraestrutura, o país assiste na prática os prejuízos concretos da falta de providências oficiais. Diante da precariedade das rodovias de acesso aos portos e da absoluta falta de condições de transpor para os navios uma safra de soja que se amplia a cada ano, particularmente a procedente de Mato Grosso, filas de caminhões carregados do produto se estendem por dezenas de quilômetros. Inconformada com os atrasos, a China, maior importadora de grãos do Brasil, começa a cancelar pedidos de compra, impondo prejuízos generalizados. Nesse cenário, ampliam-se as dúvidas sobre a possibilidade de o complexo soja superar, neste ano, o minério de ferro na pauta de exportações, o que é lamentável.
O caos só se instalou desta forma no sistema portuário, entre outras razões, porque o setor público deixou de fazer o que lhe competia, que é assegurar infraestrutura adequada ou, na falta de condições, transferir a missão para quem se dispõe encará-la. Só nos últimos cinco anos, a produção nacional de grãos saltou de 135 milhões para os atuais 183 milhões de toneladas. Enquanto isso, os investimentos ficaram mais no plano das intenções. Até 2017, a previsão é de que alcancem R$ 54,2 bilhões. Mas, para isso, será preciso vencer resistências que partem de todos os lados, particularmente de corporações de trabalhadores portuários temerosos de perder espaço, e aprovar as novas regras previstas na chamada MP dos Portos. Ao que tudo indica, esse será o nó mais difícil de ser desatado.
O certo é que o produtor brasileiro de grãos – particularmente o de regiões mais distantes dos centros de embarque, como o Centro-Oeste – não pode continuar arcando com o ônus da falta de ação. Nos Estados Unidos, por exemplo, o frete para o transporte de uma tonelada de soja por 2 mil quilômetros sai entre US$ 10 e US$ 35. No Brasil, o custo chega a equivaler a US$ 160. Com uma diferença tão grande assim, não há como o país negociar sua produção a preços competitivos no mercado externo. A situação, hoje agravada pela chuva, tende a ficar pior ainda neste ano quando começarem os embarques de outros grãos, o que deve generalizar as perdas.

É inaceitável que um país com potencial tão grande para continuar ampliando sua produção, gerando excedentes a cada ano maiores para serem exportados, simplesmente não tenha como entregar o produto aos clientes por ausência de ferrovias e rodovias adequadas, pela insuficiência de armazéns e silos e pela absoluta falta de condições dos portos de atenderem ao aumento da movimentação de cargas. Enquanto não conseguir acabar com esses gargalos, o país seguirá colhendo frustrações. É inaceitável que um país com potencial tão grande para continuar ampliando sua produção não tenha como entregar o produto aos clientes por ausência de ferrovias e rodovias adequadas.
Fonte: Opinião da RBS (edição de sábado 23/03)

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